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Artigo: Banalização da cirurgia plástica: quem sai no lucro são os investidores

20/07/2007

Robert Jan Bloch*

Até quinze anos atrás, cirurgia plástica era sinal de status. Poucos eram ‘os especialistas’ e poucos também eram os privilegiados que podiam bancar um procedimento. “Cirurgia plástica é coisa de gente rica e de artista”, dizia o povo. Conforme a especialidade foi se tornando mais popular dentro das faculdades de medicina, os preços praticados também foram se acomodando em um patamar mais acessível à classe média.

Durante cerca de dez anos o mercado de cirurgia plástica conseguiu equilibrar o serviço de bons profissionais com investimentos razoáveis. Ou seja, em caso de a pessoa querer resolver aquele seu problema de seios muito volumosos, ou mesmo ter um nariz mais proporcional ao rosto, ou ainda secar a barriga resultante de diversos partos, era apenas uma questão de privilegiar a cirurgia em detrimento das férias, ou mesmo de um carro novo ou da troca de móveis. A cirurgia plástica não estava mais restrita à esfera dos ricos e famosos.

Por mais que a popularização da cirurgia plástica represente um ganho enorme para a sociedade, sua banalização, entretanto, tem se tornado um dos principais entraves para a maioria dos profissionais experientes. Não me refiro, aqui, aos “cirurgiões das estrelas”, mas àqueles que sempre investiram na capacitação, participando de congressos internacionais, buscando atualização e excelência do serviço prestado. Esses cirurgiões que se fizeram à custa de muito esforço e que mantêm suas clínicas dentro de todas as normas exigidas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pagam todos os impostos devidos ao Governo.

É essa classe de cirurgiões plásticos que hoje sente-se acuada por um mercado devastador e temerosa pelas tantas vidas que estão se arriscando quando se entregam às “empresas de cirurgia plástica”. Hoje, até mesmo quem tem alguma condição financeira rende-se aos anúncios de página inteira que oferecem “a cirurgia plástica dos sonhos em até 36 vezes”. Ninguém sabe quem são os médicos responsáveis por tais estabelecimentos ou mesmo o nome e os antecedentes do cirurgião plástico que realizará todas aquelas cirurgias descritas no anúncio.

Seduzidas pelo apelo publicitário, pessoas se lançam na escuridão por conta da vaidade sem medidas, sem critérios. Enquanto isso, cirurgiões respeitados nacional e internacionalmente tocam a rotina de suas clínicas, cientes de estar perdendo seus pacientes para um inimigo oculto chamado “Promoção”. Pior ainda. Sabem que não há muito a ser feito, já que essas “clínicas de cirurgia plástica” geralmente estão em nome de pessoas que nada têm a ver com medicina, mas com o comércio. São investidores em busca mais um cliente.◙

* Robert Jan Bloch, cirurgião plástico há 35 anos, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, mais de 15 mil cirurgias plásticas realizadas.

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