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ORTOPEDIA - Cirurgia de 'Resurfacing' exige muito do médico, mas pode ser bem melhor para o paciente

23/12/2020

Algumas causas de dor no quadril são bastante comuns, como artrose, necrose, falta de anatomia perfeita do quadril (fato que impede pelo menos 15% da população de praticar exercícios de repetição) e sequelas de traumas – neste caso, atletas profissionais e amadores são as principais vítimas. Mas as estruturas do quadril, em especial a cabeça do fêmur, também são bastante suscetíveis aos efeitos do alcoolismo e ao uso de corticoides (empregados para tratar alergias e doenças autoimunes), podendo facilmente sofrer um infarto – conhecido como osteonecrose da cabeça do fêmur. Com o passar do tempo, a pessoa começa a sentir tanta dor que acaba restringindo seus movimentos e comprometendo sua qualidade de vida. Em grande parte dos casos, a cirurgia é o tratamento mais indicado para aliviar a dor e restaurar funções. O problema é que muitos ortopedistas têm optado pela prótese total de quadril quando, na verdade, poderiam optar por um procedimento menos mutilante e mais conservador: a prótese de Resurfacing.

De acordo com o médico Lafayette Lage, ortopedista que introduziu a artroscopia do quadril no Brasil e um dos pioneiros na cirurgia de Resurfacing(recobrimento da superfície da cabeça do fêmur com uma coroa de metal), foram necessários vários anos e outros tantos ajustes para evitar problemas eventualmente detectados com a implantação dessa prótese muito preservadora do estoque ósseo – que evita que osso saudável seja ‘jogado fora’, como acontece com as próteses convencionais. Mas, depois dessa fase de correções e o desenvolvimento de técnicas para alcançar o posicionamento ideal dos componentes – evitando que risquem durante a cirurgia –, o procedimento se mostrou bastante benéfico para os pacientes, principalmente jovens e atletas. 

“Não podemos nos esquecer de que houve uma curva de aprendizagem importantíssima. Obviamente, apesar de toda a técnica necessária, é muito mais fácil para um cirurgião ortopedista implantar uma prótese total de quadril do que optar pela cirurgia de Resurfacing, já que ela implica numa expertise que nem todos dominam e pequenos erros de posicionamento podem resultar em prejuízos. Outro motivo para que muitos ortopedistas critiquem a prótese metal-metal é confundir a Resurfacingcom outra prótese (Big Head) bastante usada entre 2007 e 2012 e que foi um verdadeiro fracasso – porque cortava a cabeça do fêmur, apresentando sérios problemas. Evidentemente, essa prótese foi retirada do mercado, mas sua má reputação acabou respingando injustamente sobre a prótese de Resurfacing. É inconcebível, com os conhecimentos que temos hoje, deixar o paciente sofrendo com dor por anos quando a solução é simples. Do ponto de vista do paciente, principalmente quando se trata de um adulto jovem e ativo, é bem melhor preservar a estrutura boa e trocar apenas a parte lesionada da cabeça do fêmur. Mal comparando, é como se optássemos por amputar um dedo necrosado ao invés de extrair todo o pé ou a mão por causa desse problema localizado”, afirma o especialista.

Lage explica que, depois de remover a cartilagem danificada, a prótese é encaixada sobre a parte preservada da cabeça do fêmur, restabelecendo exatamente a biomecânica original do fêmur proximal. A outra parte, encaixada no acetábulo como se fosse a casca de uma meia laranja, é fixada na bacia sob pressão. As duas peças são feitas de uma liga de cromo-cobalto e molibdênio extremamente resistentes ao desgaste e a fortes impactos. Com isso, a prótese tem mostrado uma sobrevivência superior a 95% após 20 anos de uso. “Além de preservar a maior parte da articulação e ser bastante resistente – compatível com maiores níveis de atividades físicas do que as próteses convencionais – outra vantagem é a facilidade de uma eventual cirurgia de revisão para a substituição da prótese, diferentemente da prótese convencional. E tem mais um ponto importante: a redução dos casos de luxação e de infecção. A prótese de Resurfacing, aliás, permite maior estabilidade e mostrou um índice de infecção menor, provavelmente por ser menos invasiva no osso”. 

Apesar de o Resurfacing ser mais indicado em pacientes jovens e ativos, o especialista revela que – dependendo do perfil do indivíduo – ele pode ser uma ótima opção de tratamento de dor no quadril para pessoas de meia-idade. É o caso do ator Jean Claude Van Damme. “Nós avaliamos a idade biológica do paciente, não a cronológica. Esse ator, que é mestre em artes marciais e uma pessoa bastante ativa, fez uma cirurgia de recobrimento da cabeça do fêmur em 2013, aos 53 anos, e oito meses depois da operação gravou um comercial para uma marca de caminhões em que abria as pernas num espacate impressionante – demonstrando sua flexibilidade e alongamento mesmo depois de operado. Uma alegria para cirurgiões que preferem tratamentos mais conservadores", diz Lage. 

 

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